domingo

Colossal

É diferente se ver ali, com tudo a sua volta em silêncio, estranho se ver, de fora, se ver sentir uma mão no teu braço e os olhos nos teus olhos. Sentir que teu sorriso é inevitável - não dá pra controlar - saber que é impensável qualquer resquício de racionalidade, ali. E, de onde você está, saber que é o mesmo lugar. E por que? É diferente não saber seque o que sentir.

sexta-feira

Café

Não se expressa mais, não se vê mais como parte do mundo, não acredita mais e não vê nada de errado nisso. Não se levanta e grita seus ideais em frente a quem quiser ouvir e nem liga quando discordam do seu pensamento. Seu guarda roupa não tem mais camisetas de lutas que significaram muito, seu corpo não tem mais símbolos de tudo aquilo com o que sonhou. Já não tem mais aquela atitude que todos admiravam e já não busca mais admiração.

Talvez por ter mais convicção no que pensa, talvez por saber que não faz diferença, talvez por exaustão. Não se importa mais em passar horas contemplando a chuva ou em sorrir quando vê um inseto, sua rotina não faz mais diferença e seus sonhos já não se enfileiram diante de cada reflexão. Seus tombos já não lhe ensinam nada e sua voz já não tem o tom de calmaria que costumava imprimir.

Não importa mais, não pensa mais em uma figura geral, não acredita em não acreditar e não tem nada de errado nisso. Não liga mais para as críticas que lhe são tecidas ou para os elogios que lhe são tachados, nem pensa mais no abstrato, nem pensa mais em nada. Não faz das cores um arco-iris, não lhe importam mais as pequenas coisas.

Talvez por ter encontrado a felicidade, talvez por não saber procurar, talvez por ter desistido de ser feliz. Não se importa mais em questionar ou em morrer de amores, em segurar mãos, nem em abraçar. Não lhe faz mais diferença.

terça-feira

"A vida é como um vinho, para ser bem aproveitada, não deve ser bebida até a última gota." - Lord Byron

segunda-feira

Pilastra

Esse eterno receio já não basta mais. Desperdiçar suas noites com os olhos abertos e o suor frio escorrendo pelo rosto, sentir que a multidão é externa a você, saber que você não pertence, imaginar como seria se você fizesse parte do mundo ao teu redor, e ter medo de tudo... Medo de todos. 

A certeza de que não adianta explicar, não adianta entender, e que ninguém pode te ver pelo que você realmente é - ninguém pode te ver pelo que você pode ser - ter certeza de que talvez, só talvez, eles sejam iguais a você. Ter que se esconder, não é o bastante.

Viver com esse fardo, essa máscara feia e inadequada, ouvir falar de recompensas que não têm valor nenhum, imaginar o que é viver - ser você - mas você não é o suficiente, você não é bom o suficiente e, lá no fundo, você sabe que nunca vai ser. Cansado de viver de miséria, cansado de caminhar entre aquilo que você teme mais, todos os dias, exausto de saber que ninguém nunca vai te amar de verdade... E sem energia pra ir contra isso.

Sentir que não pode respirar, que teus pensamentos estão errados, que você é pior que todos à sua volta e que eles são vermes. Ouvir seu coração bater descompassado, sua respiração fluir mais e mais devagar, seu corpo relaxar como nunca, sua visão escurecer e, enfim, sua mente se calar. Já não basta mais.

quinta-feira

"Só aceito uma única liberdade que possa ser realmente digna desse nome" (Bakunin)

segunda-feira

Globo de neve



São cada vez mais idiotas os tolos que regem a sociedade, os que antes eram a elite, tão odiada, derrubada pelo povo, já impaciente pela falta de respeito que recebeu, agora são o próprio povo cego pela própria opinião - concreta e burra - esse mesmo povo que aceita tudo o que for, desde que seja em seu nome.

Os mesmos tolos que querem impor a liberdade e obrigar que todos ouçam suas palavras - letradas ou não - cheias de ignorância e falta de visão. Esse mesmo povo que ainda não desistiu de lutar pela paz e que faz da liberdade de crenças uma religião tão dominante quanto o clero da inquisição.

Essa sociedade nojenta tomada por artistas que são contra a sociedade vigente, mas não vão contra seu ateliê underground, repleto de artistas provindos de universidades nojentas formadas por esnobes e pedantes cheios de valores indefensáveis cujo único propósito é fazer os infelizes se sentirem agrupados. Os professores que estão dispostos a morrer de fome por uma causa, mas que essa não lhes faça impopular entre aqueles que são destinados a  adorar seus mestres.

Calota de pessoas imundas que ainda acreditam que estão fazendo a coisa certa, que ainda se dizem como superiores, onde a prisão tem que incluir a liberdade. Quando a tolerância se vê como superior e o pouco parece tudo, talvez seja hora de admitir que nada vai mudar, nunca.

terça-feira

Contemporâneo

Não é quem és e não faz questão de ser.
Se fazer amar, se fazer amável.
Não pertence.
Não é tudo, não é só, não é...
não faz sentido ser.
Parar, essa mentira não faz parte
nunca vai ser, não basta fingir que é,
não é só, não faz conforto, não é tudo.
Não é quem és.
E não vai ser.

domingo

Comum

Foram dias tão longos até te encontrar
e beijos suaves que, amor, jurei não amar
Foram tantas as coisas, eu quis lhe dizer.
Palavras tão falsa me fiz prometer.

Doses ímpares de amores forçados,
palavras vazias e olhares olhados,
fumaça abafada de teor alcoólico...
Um beijo distante e um olhar bucólico.

Na varanda coberta com terra e com erva
ali percebi que tu me alucina.
Teu jeito tão teu, que almejo e me enerva,
escondes um algo que só me fascina.

Não choro, não digo, não ei de esperar
E juras de amor não vou lhe fazer
Foram dias tão longos até te encontrar
E tão poucos dias até te perder.